Em rara entrevista ao programa Encontro Marcado da TV Educativa nos anos 1990, Mario Quintana confessa, após ser questionado sobre suas paixões e o fato de nunca ter se casado: “Eu sempre me apaixonei e a paixão é incompatível com o amor. O apaixonado é ciumento, insuportável, e o amor não. O amor vive razões sem conflito”. Atrás dele, na parede do quarto de hotel onde vivia, dois pôsteres revelavam suas maiores paixões: uma, platônica, era Greta Garbo, mulher por quem todos eram apaixonados, segundo o poeta; outra, a atriz e amiga Bruna Lombardi, que conheceu em Porto Alegre, na Feira do Livro de 1977, quando a então jovem de 25 anos lançava seu primeiro livro de poesias.
Além da amizade e admiração, a beleza de Bruna, frequentemente considerada a “musa” do poeta, encantava-o. Se Quintana não sabia ao certo quais eram as intenções dela, não tinha dúvida quanto às suas: “Estou cheio de más intenções”, brincou, certa vez, em entrevista concedida ao jornalista Maurício Mello Jr. do Correio Braziliense.
Dentre suas paixões, estava também Cecília Meireles, que conheceu em 1935. Mais de cinquenta anos depois, em 1990, durante o programa As Músicas Que Fizeram A Sua Cabeça, da rádio porto-alegrense FM Cultura, respondeu sem meias-palavras a pergunta sobre quem teria lhe inspirado os versos iniciais de “Solau à moda antiga” (“Senhora, eu vos amo tanto/ Que até por vosso marido/ Me dá um certo quebranto…”): “Foi a Cecília Meireles, ela era muito bonita, todo mundo era apaixonado por ela, todos nós. Ela era muito minha amiga, foi quem publicou meus sonetos e poemas lá no Rio”.
Mas o gaúcho de Alegrete não só teve paixões, como soube também despertá-las. Já mostramos aqui como ele fazia sucesso entre as taquígrafas de seu estado natal. Agora, outro achado no seu arquivo – um convite de casamento enviado junto com bilhete assinado pela noiva – comprova que o poeta, já septuagenário, ainda arrebatava corações femininos:
“Espero que você já esteja plenamente recuperado quando o convite chegar. Pois é, cansei de esperar por você. E, de qualquer maneira, não daria certo, pois você é um polígamo por natureza. Mas continuo te amando muito.
Um beijo grande,
Claudia”
A primeira frase do bilhete faz referência ao acidente sofrido pelo poeta no dia 6 de maio de 1985, quando foi atropelado no centro de Porto Alegre. Quintana quebrou o fêmur esquerdo e precisou de cirurgia para a colocação de prótese, mas, como era comum, fez piada com o acidente: pediu que anotassem a placa do carro para jogar na loteria.