Em novembro de 1968, dez anos após sua primeira visita ao Brasil, a rainha Elizabeth II voltava ao nosso país, e o compositor e violonista Baden Powell foi convidado pela Embaixada Britânica, no Rio de Janeiro, para tocar na recepção oficial a Sua Majestade. No livro O violão vadio de Baden Powell, de Dominique Dreyfus, Baden narra o episódio:

Foi coisa do Vinicius [de Moraes], né? Ele é que arrumou essa história. Aí eu fui, mas antes fui falar com Vinicius: “Que é que eu vou tocar? Bossa-nova não adianta. Samba tampouco. Clássico também não… Bom, então eu vou tocar Marcha escocesa,[1] não é?” Aí me explicaram tudo como tinha que ser, que não podia apertar a mão da rainha, aquelas coisas todas do protocolo, e eu fui. Fizeram uma rodinha em volta dela, ela sentou, e eu em frente a ela toquei a Marcha escocesa e mais outra música. Ela escutava e batia o pezinho assim…

Terminada a audição, houve um coquetel. O príncipe Charles, filho da rainha e integrante da comitiva real, foi falar com Baden: “Quando você for à Inglaterra, pode me procurar. Eu adoro música, conheço os Beatles”.

A apresentação de Baden parece ter agradado à rainha, como mostra correspondência enviada ao artista em nome de Sua Majestade por Mr. John Russell, da Embaixada Britânica. O missivista aproveita a oportunidade para dizer a Baden que tanto ele quanto sua família eram também seus admiradores:

BRITISH EMBASSY,

RIO DE JANEIRO.

6 de dezembro de 1968

Prezado Senhor,

Em obediência às ordens de Sua Majestade venho por esta transmitir a Vossa Senhoria o quanto ela gostou de ouvi-lo tocar durante a recepção realizada na Embaixada Britânica no dia 9 de novembro.

É imensa a minha satisfação em poder transmitir esta mensagem de Sua Majestade.

Gostaria também de acrescentar os calorosos agradecimentos de minha mulher, eu e minha filha, pela valiosa contribuição de Vossa Senhoria, que assegurou o êxito desta recepção. Todos nós gostamos muito de sua música.

Cordialmente,

John Russell

Você pode ouvir a música “Marcha escocesa” do álbum “Show-recital”, de 1968.

[1] Composição do próprio Baden.