Nem só dos atos de heroísmo que protagonizaram nas duas guerras mundiais vivem os pombos-correios. Em terras mais pacíficas, ou, pelo menos, de violência diferente, como o Brasil, esses pássaros foram consagrados de outra forma. Não escaparam, por exemplo, ao desespero do compositor Darcy de Oliveira, autor da letra de Pombo-correio, musicada pelo flautista Benedito Lacerda.

Na canção, gravada por Gilberto Alves em 1942, o desalento do amante é claro, sem que lhe falte graça: não satisfeito com o envio de três pombos-correios à amada, o insistente apaixonado segue mandando mensagens até que o pombal se esvazie. Sem resposta, pois sequer o mensageiro retornou, como é de hábito, resta ao apaixonado desfiar uma série de desgraças que lhe acontecem desde que a mulher o abandonou.

Como se pode ouvir no link acima, o samba é delicioso, e não há como deixar de rir com a sequência de infortúnios de que é vítima o amante: “O canário morreu,/ A roseira murchou, o papagaio emudeceu/ E o cano d’água furou”.

Muito tempo depois, Moraes Moreira faria grande sucesso com uma marchinha de mesmo nome. Neste segundo Pombo-correio, certamente mais romântico, fica no ar a expectativa de que o pássaro retorne com um bilhete da amada no bico, de preferência, com a mensagem “Volta pra mim”. É o que diz a letra do compositor baiano.

À esperança contemporânea de Moraes Moreira opõe-se o realismo do letrista Darcy de Oliveira, para quem a situação apresenta-se resolvida: a amada não volta mesmo; o abandono é definitivo: “Ela não veio e nem o pombo voltou”, conclui logo na primeira estrofe.

Canções à parte, e sem atentar para o fato de que a chuva ou o vento podem muito rapidamente dar fim à mensagem que o pombo-correio carrega, os enamorados aceitaram bem a ideia de que uma carta, presa ao frágil bico do pássaro, resiste até mesmo a uma tempestade. Assim são representados esses mensageiros milenares no imaginário popular.

No entanto, diferentemente da imagem de envelopes que tremulam, mas se mantêm firmes nos bicos aéreos, eles devem, na verdade, ser amarrados à perna do pássaro para que façam seu trajeto em segurança. Era dentro de tubos minúsculos, muito bem presos às pernas de mais de 30 mil pombos-correios, que, na Primeira Guerra Mundial, mensagens cifradas, enviadas pelos exércitos aliados, cruzavam os ares levando notícias do front.

Não foi menor o número de aves utilizadas na Segunda Guerra Mundial, em que ficou célebre o pombo-correio irlandês Paddy (NPS.43.9451), vencedor da medalha Dickin por ter sido o mais rápido entre os muitos que serviram à RAF (Royal Air Force), a força aérea britânica. Coube a Paddy levar à Inglaterra a mensagem do sucesso da invasão de tropas inglesas e americanas à Normandia, no dia 6 de junho de 1944, na operação que entraria para a História como o Dia D.

No dia 12 de junho, às 8:15 da manhã, Paddy saiu da costa francesa e voou aproximadamente 370 quilômetros ao longo do Canal da Mancha em 4 horas e 50 minutos até Hampshire, onde cumpriu a missão da entrega. Três meses depois, em 1 de setembro de 1944, recebia a condecoração. Na medalha, que muitos anos depois seria arrematada em leilão por 7 mil libras, lê-se a inscrição: “Pelo melhor tempo com mensagem sobre a Operação na Normandia durante os serviços à RAF, em junho de 1944”.

A importância dessas aves não para aí. Mais recentemente, temendo colapso nos meios de comunicação, o exército chinês intensificou o treinamento de pombos-correios. Sabe-se lá – pensam os militares do Exército de Libertação Popular na província de Sichuan, na China – se não ficarão isolados, como já aconteceu no grande terremoto que castigou a região em 2008? Por isso, 10 mil pássaros estão sendo treinados para ir às regiões vizinhas de Guizhou, Yynann e à região do Tibete, que têm postos para recebê-los, caso haja uma pane irreversível.

E mesmo na era da pressa, da rapidez em tudo, principalmente na comunicação, os pombos-correios, que não são aqueles despreocupados visitantes de praças, mas aves mais robustas, não ficaram para trás: podem voar até 800 quilômetros por dia, a 100 km/h. Pelo menos é o que alardeiam os treinadores das sociedades de columbofilia que se dedicam a treinar os pombos-correios para corridas aéreas no Brasil e mundo afora.

Sem dúvida, destino menos nobre para esses heroicos mensageiros.