De 13 de maio a 1º de julho, o curso Remetente/Destinatário, promovido pelo Instituto Moreira Salles, analisou e discutiu correspondências de autores renomados, como Franz Kafka, Rainer Maria Rilke, Elizabeth Bishop, Fernando Pessoa e Mário de Andrade.

O colecionador Pedro Corrêa do Lago fez a abertura, durante a qual leu e comentou manuscritos preciosos de sua coleção particular, dentre eles uma raridade que reapareceria na aula dedicada à correspondência trocada entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz.

O conjunto de dez cartas escritas entre 1903 e 1908 por Rainer Maria Rilke ao jovem Franz Xaver Kappus foi o tema da segunda aula, dada pelo poeta Antonio Cicero, para quem Rilke queria mostrar como “a pessoa deve se cultivar para poder ser um poeta, como a pessoa deve viver”.

No terceiro encontro, a extensa correspondência amorosa entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz foi analisada pela professora Gilda Santos, que mostrou a evolução do relacionamento dos dois através das cartas, desde a fascinação inicial até o rompimento, justificado pelo poeta da seguinte maneira: “o meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ofelinha nem sabe e está subordinado cada vez mais à obediência a mestres que não permitem nem perdoam”.

Samuel Titan Jr. contou a extraordinária história das cinco cartas publicadas em francês sob o título Lettres portugaises em 1669, cuja autoria é, até hoje, um mistério. Mas um mistério mais ou menos solucionado se considerarmos válidos os argumentos elencados pelo tradutor, que defendeu a hipótese de as cartas serem um produto ficcional escrito por Gabriel Joseph de Lavergne, conde de Guilleragues, diplomata, jornalista e escritor francês.

Homenageado da FLIP esse ano e tema da quinta aula, Mário de Andrade, um dos maiores missivistas brasileiros, trocou vasta e notável correspondência com o amigo e poeta Manuel Bandeira. Comentada pelo professor Eduardo Jardim, a troca entre os poetas dá não só a dimensão da amizade que os ligou, como também o testemunho intelectual, político e cultural de uma época.

Para falar das cartas da americana Elizabeth Bishop, o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto priorizou a relação de amor e ódio que ela manteve com o Brasil, onde viveu. Utilizando o conceito de “homem cordial” desenvolvido por Sérgio Buarque de Holanda, ele abordou a mudança de humor de Bishop em relação ao Brasil: da paixão ao desencanto amargo.

A última aula do curso foi dada pelo professor Karl Erik Schollhammer sobre a correspondência de Kafka, desde a famosa Carta ao pai, cujo denso conteúdo expõe a pungente e espinhosa relação entre pai e filho, às cartas trocadas com as mulheres que marcaram a vida do escritor, sobretudo Felice Bauer, de quem foi noivo duas vezes.