Corte [Rio de Janeiro], 3 de novembro de 1876
Minha adorada noiva do coração,
Recebi as tuas duas últimas cartinhas, cuja data não menciono, porque escrevo-te do escritório, onde não as tenho presente.
Ambas me encantaram, mas especialmente a segunda, em que respondes às minhas cartas relativas ao nosso próximo casamento. As duas linhas que a propósito disso me diriges encerram em si tal distinção, um tão admirável conjunto de sentimentos raros na tua idade, uma conveniência, um senso, uma dignidade, uma pureza que se não excedem. Vi, nessas poucas palavras, já em ti, por uma encantadora antecipação, a mãe de família virtuosa, a esposa devotada e sem mácula que hás de ser. O nosso Souto, a quem a mostrei, como é meu costume mostrar-lhe tudo quanto me escreves e eu te escrevo, ficou igualmente cheio de alegria, vendo-te tão digna dos extremos com que ele te quer. Se eu não tivesse de ti o maior orgulho, tê-lo-ia de hoje em diante no mais alto grau.
Agora é com papai também o que se segue. Em falta do telégrafo, cuja interrupção permita Deus não nos prejudique, espero pelo primeiro vapor a notícia de estarem aí terminados os passos para o nosso casamento, e seguirei para a Bahia logo no imediato a esse, ainda que a diferença seja apenas de um dia, ou menos. Consequentemente podem aí prefixar a data da minha chegada, segundo a tabela dos paquetes. Assim, se antes do dia 8 chegar-me aqui esse aviso, pelo inglês de 8 a 9 partirei, querendo Deus.
O estudante por quem papai se interessa já está bem recomendado a um amigo meu, em cujos serviços ponho toda a confiança, e cujo valimento só não será eficaz em benefício do seu afilhado se for absolutamente impossível levá-lo a porto de salvamento. Pedi, como papai deseja, informações sobre as notas dele na academia; mas esse meu amigo ainda mais não pôde trazer.
Para o casamento, tudo aí deve estar pronto, de modo que, chegado eu, efetue-se o ato dois, ou quando muito, três dias depois. Quanto à comunicação que tens de fazer à nossa futura madrinha, parentes e amigos, podes realizá-la, assim que se obtiverem as autorizações do arcebispado, se papai, de acordo com o Cincinato, não achar perigo na divulgação do fato. Porque, porém, absolutamente, nem agora, nem nunca, deve deixar de ser segredo, é a causa que nos leva a acelerar o casamento. Nem depois de concluído ele convém que se saiba havermo-lo nós apressado para evitar a hostilidade dos padres.
Adeus, minha adorada noiva, meu caro pai e minha querida mamãe. Até muitíssimo breve, se Deus quiser. Abraços a Cazuza. Agrados a Anitinha, Mimita e Carlito.
Recebe, minha Cota, o coração e os beijos de
teu noivo
Rui
P.S.: Vão abertas todas essas cartas, para que tu, papai e mamãe as leiam, e depois, fechadas, sejam entregues.
Rui Barbosa. Cartas à noiva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982, pp. 221-222.