A tradução do termo inglês penpal para o português seria “amigo por correspondência”; nasceu da prática de troca de cartas muito popular ao longo de todo o século XX. Em tempos de e-mail, sms e whatsapp, é pouco provável – ou mesmo inimaginável – que pessoas se correspondam dessa forma (sem ao menos trocarem uma selfie…). Mas há 100 anos não só a troca de cartas era popular, como se publicavam anúncios em revistas e jornais em busca de amigos por correspondência, como faz a senhorita Novak em meados dos anos 1940 no filme A loja da esquina:  “Garota moderna deseja trocar correspondências anônimas sobre assuntos culturais com um homem jovem, simpático e inteligente.”

A partir da premissa de que pessoas se correspondem sem se conhecerem pessoalmente, Ernst Lubitsch dirige A loja da esquina (The Shop Around the Corner, EUA, 1940), baseado na peça teatral Parfumerie (1937), do húngaro Miklós László. No filme, Alfred Kralik (James Stewart) e Klara Novak (Margaret Sullavan) se detestam com ardor em seu ambiente de trabalho; fora dele, se apaixonam ao trocarem cartas entre si anonimamente. Por meio de precisa caracterização de personagens, construída a partir de suas reações a situações do cotidiano, Lubitsch faz uma comédia romântica irônica, mas nunca cínica, ao explorar esse “desencontro” amoroso, como se pode ver nestes dois trechos: o primeiro, quando, doente, Klara recebe a visita do chefe. Ignorando ser ele o remetente das cartas encantadoras e anônimas que recebe, não contém a emoção ao ler a correspondência e compartilha seu sentimento com o visitante; o seguinte, quando se dá a revelação de que o sr. Kralik, o chefe que ela odeia, é o autor das cartas.

Mais:

Cartas no cinema (1): sobre Metáfora ou a tristeza virada do avesso
Cartas no cinema (3): sobre Nunca te vi, sempre te amei
Cartas no cinema (4): sobre O prédio dos chilenos
Cartas no cinema (5): sobre Disque M para matar
Cartas no cinema (6): sobre A carta