Londres, década de 1970. Assim começa a história de Nunca te vi, sempre te amei (84 Charing Cross Road, de David Hugh Jones. EUA/Reino Unido, 1987), que se desenvolve em flashback para narrar a relação epistolar entre o inglês Frank Doel (Anthony Hopkins), vendedor de livros em uma loja especializada em obras raras, e a escritora nova-iorquina Helen Hanff (Anne Bancroft), aficionada de literatura inglesa. Os dois se conhecem por meio de uma longuíssima correspondência, que tem início após a Segunda Guerra Mundial e se intensifica com o passar dos anos à medida que Hanff deixa de apenas encomendar livros e passa a comentá-los, falando também sobre sua própria vida com certa dose de humor. As cartas, que ocupam posição central no enredo, tornam-se cada vez mais íntimas e os dois desenvolvem uma amizade notável e duradoura.

Se o título original em inglês é tão simples quanto o endereço da loja de livros onde trabalha Doel, o título adotado no Brasil sugere um filme mais romântico do que seu produto final. O amor aqui é contido, praticamente fraternal e proporcional ao desejo reprimido de seus protagonistas, que não chegam nunca a se conhecer pessoalmente e exprimem seus sentimentos por meio da troca de cartas, livros e presentes, entre os quais alimentos raros na Inglaterra do pós-guerra. Não é, portanto, uma clássica história de amor. Mas, como disse o crítico Roger Ebert, “um filme feito para pessoas que amam Londres e livros”. E cartas.

Mais:

Cartas no cinema (1): sobre Metáfora ou a tristeza virada do avesso
Cartas no cinema (2): sobre A loja da esquina
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Cartas no cinema (6): sobre A carta