Não existe final de ano sem retrospectiva ou coisa que o valha. O Globo já soltou seus destaques literários de 2018, assim como o Suplemento Pernambuco, entre outros. O Correio IMS se junta à tradição e recupera – pelos modernos números do google analytics – as três cartas mais lidas do site neste buliçoso e resistente ano.

Logo no início de janeiro, publicamos “Morrer num bar”, carta que Vinicius de Moraes escreveu assim que soube da morte do cronista e seu amigo Antônio Maria, em 15 de outubro de 1964: “Acabou, meu Maria. […] Acabou a sua sede, a sua fome, a sua cólera. Acabou a sua dieta”.

Vinicius rememora os últimos encontros com Maria, a derradeira ligação por telefone, a promessa de recebê-lo para uma temporada em sua casa em Itaipava. Antônio Maria morreu num bar, como desejava, e Vinicius de Moraes – a quem Maria chamava de Poesia, com p maiúsculo –, registra com dor e beleza esse irreversível evento.

A segunda carta mais lida também traz o poeta de “Soneto de fidelidade” na esteira, dessa vez em correspondência com Chico Buarque. Se o tema da carta anterior era morte, “Valsinha, e não valsa hippie (2)” fala do nascimento de uma canção. Observa-se a genialidade de dois monstros da música brasileira montando, cortando, ajustando a Valsinha. O letrista Chico responde com humor e firmeza às “aparafusadas” sugeridas por Vinicius, responsável pela melodia. A sugestão de acréscimo do adjetivo hippie ao título, por exemplo, foi rechaçada por Chico com veemência: “título forte”, “forçação de barra”.

No terceiro lugar do pódio das cartas mais lidas está “Silêncio para Clarice”. Lispector, que havia acabado de publicar Perto do coração selvagem (1943) e recebido comentários dos nomes mais importantes da crítica brasileira, se dirige a Mário de Andrade reivindicando, sem “falsa humildade”, uma opinião. Até então, o papa do modernismo tinha dado silêncio como resposta ao lançamento do primeiro romance da escritora.

Fora do pódio oficial, mas não menos importante para 2018, está “Aos ‘bastardos da PUC’, com carinho”, carta que Marielle Franco escreveu ao coletivo da instituição um ano antes de seu assassinato e do motorista Anderson Gomes, crime que segue sem resposta. Com extremo afeto e coragem, a vereadora e socióloga deixa, a partir da sua própria experiência como bolsista integral daquela universidade, “estratégias para a sobrevivência acadêmica”. Aos estudantes oriundos de comunidades periféricas, Marielle ensina que “viver a PUC-Rio é quase uma missão política e social”.

Esperança para 2019. E sempre boas cartas!