Montreal, 30 de abril de 1964

Minha cada vez mais querida Jô,

Se você soubesse ou pudesse imaginar ou longe supor do como e quanto eu fico entristecido para comigo mesmo quando, sem o querer, digo coisas que lhe dão pesar e tristeza, você de imediato perdoaria a este “seu Franz”. – O meu amor por você é tão grande, tão infinitamente profundo que não gostaria, eu, de nunca, jamais causar um momento de desgosto ou esfriamento no calor, na espontaneidade com que você se entrega de corpo e alma a mim.

Leio no seu olhar profundo, límpido e sinceramente leal, a grandeza da sua entrega completa a esse sentimento tão alto e elevado que é o amor que você tem por mim. – O nosso amor, Jô querida, já tem a força do imponderável. Nada poderá destruí-lo porque nasceu de uma harmonia de coisas que nós dois possuíamos sem saber de possuí-las.

Descobrimos em nós uma potencialidade afetiva, uma quantidade de coisas boas que viviam recônditas dentro de nós e das quais não nos dávamos conta.

Devemos, temos o dever de zelar por esse nosso amor grande, tão parecido em nós dois, coisa difícil de se encontrar na vida.

O calor do seu amor me dá tanta boa alegria e tanta vontade de superar-me como nunca acreditava de ser capaz.

E tudo devo a quem? À minha adorada mulher, senhora e dona Jô. Que amo cada vez mais.

Franz

Acervo pessoal Francisco Mignone