Regente e ex-diretor do Teatro Municipal, Francisco Mignone, ou Chico Bororó, como assinava suas composições ligadas à música popular, já era casado com a concertista Maria Josephina quando precisou viajar ao Canadá, a trabalho. De lá, enviou esta carta apaixonada à mulher – para ele, uma forma de “zelar por esse nosso amor grande”.
Montreal, 30 de abril de 1964
Minha cada vez mais querida Jô,
Se você soubesse ou pudesse imaginar ou longe supor do como e quanto eu fico entristecido para comigo mesmo quando, sem o querer, digo coisas que lhe dão pesar e tristeza, você de imediato perdoaria a este “seu Franz”. – O meu amor por você é tão grande, tão infinitamente profundo que não gostaria, eu, de nunca, jamais causar um momento de desgosto ou esfriamento no calor, na espontaneidade com que você se entrega de corpo e alma a mim.
Leio no seu olhar profundo, límpido e sinceramente leal, a grandeza da sua entrega completa a esse sentimento tão alto e elevado que é o amor que você tem por mim. – O nosso amor, Jô querida, já tem a força do imponderável. Nada poderá destruí-lo porque nasceu de uma harmonia de coisas que nós dois possuíamos sem saber de possuí-las.
Descobrimos em nós uma potencialidade afetiva, uma quantidade de coisas boas que viviam recônditas dentro de nós e das quais não nos dávamos conta.
Devemos, temos o dever de zelar por esse nosso amor grande, tão parecido em nós dois, coisa difícil de se encontrar na vida.
O calor do seu amor me dá tanta boa alegria e tanta vontade de superar-me como nunca acreditava de ser capaz.
E tudo devo a quem? À minha adorada mulher, senhora e dona Jô. Que amo cada vez mais.
Franz
Acervo pessoal Francisco Mignone