[Rio de Janeiro], 7 de setembro [de 18]93
Minha Maria Augusta,
Estou experimentando pela primeira vez as “delícias” de ser preso, e preso inocente. Não obstante a fidalguia com que sou tratado, a boa camaradagem em que vivemos com o dono da casa, tipo de qualidades simpáticas e distintas, minha situação de espírito, pela ausência tua e de nossos filhinhos, é infinitamente dolorosa, a tal ponto que às vezes se apodera de mim a vontade insensata de expor-me a todos os perigos, para te ir abraçar a ti e a eles.
Ainda bem que tens em roda de ti tão bons amigos, e que te achas abrigada numa proteção afetuosa e segura, como a da casa em que estás. A todos eles agradece por mim o serviço que me prestam, confortando-me com o sentimento da tranquilidade relativa que desse fato me resulta.
Dá-me pelo portador,[1] em algumas linhas, notícia minuciosa do Joãozinho[2] e de nossas filhas. Teria ele ficado inteiramente bom? Que dia, que festa a daquele em que nos tornarmos a abraçar, minha Cota!
Procurarei escrever-te diariamente. O portador dar-te-á certas notícias, que não posso escrever-te. Sigilo absoluto sobre o lugar onde me acho!
Preciso de roupas e outros objetos. Mas não deves mandar buscá-la em casa; porque sei que em frente à nossa porta há guarda. Carlito, com o Amaral, que se incumbam de comprar-ma, e metê-la numa malinha de viagem, que comprarão também, mas não em meu nome. Depois o portador encarregar-se-á de fazê-la chegar até aqui.
Adeus, minha adorada Cota. Não te sei dizer as saudades do teu
Rui
Rui Barbosa. Cartas à noiva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982, pp. 226-227.
[1] N.E.: Francisco de Castro Filho.
[2] N.E.: Seu filho João.