Rio de Janeiro, 13 de maio de 1828

Marquesa,

Não foram faltos de fundamentos os conselhos que lhe mandei em mi­nhas anteriores cartas para que me pedisse licença de­baixo de pretexto de saúde para ir estar em outra província do Império, a fim de eu poder completar meu casamento, no qual de frente se opõe a sua re­sidência nesta corte.

O marquês de Barbacena[1] é chegado, e sua vinda é motivada pela necessidade de me expor de viva voz os entraves que tem havido ao meu casamento em consequência da sua estada aqui na corte, de onde se torna indispensável sair por este mês até ao meado do futuro junho, o mais tardar. O caso é mui sé­rio. Esta minha comunicação deve pela marquesa ser tomada como um aviso que lhe convém aproveitar, o que não fazendo é da minha honra, do interesse deste Império e da minha família que eu tome uma atitude soberana e que, pelos muitos modos que as leis me subministram, eu haja de dar andamento a negócio de tanta magnitude. Eu conto que nada dis­to será mister, pois conheço o amor que a marquesa consagra à pátria e à minha família, mas fique certa que esta é a minha derradeira resolução, bem como carta que lhe escrevo a não me responder com aquela obediência e respeito que lhe cumpre como minha súdita e principalmente minha criada.

Aceite protestos daquela sincera amizade com que sou seu amo,

Imperador

Cartas de Pedro I à marquesa de Santos. Notas de Alberto Rangel. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 448.

[1] N.S.: Diplomata e militar, Felisberto Caldeira Brant, o marquês de Barbacena (1772-1842), viajou para a Europa em 1828 a fim de negociar o casamento de dom Pedro I com dona Amélia de Leuchtenberg.