[Belo Horizonte, 27 de janeiro de 1935]
Meu dedicado médico e paciente amigo Edgar,
Um abraço
Se tomo a liberdade de roubar mais uma vez seu precioso tempo, é porque tenho certeza de que você se interessa por mim muito mais do que eu mereço.
Assim sendo, vou passar a resumir as notícias que se referem à marcha do meu tratamento.
E, para amenizar as agruras que tal leitura oferece, resolvi fazer uso das quadras, que se seguem:
Já apresento melhoras,
Pois levanto muito cedo
E… deitar às nove horas,
Para mim, é um brinquedo!
A injeção me tortura
E muito medo me mete;
Mas… minha temperatura
Não passa de trinta e sete!
Nessas balanças mineiras
De variados estilos
Trepei de várias maneiras
E… pesei cinquenta quilos!
Deu resultado comum
O meu exame de urina.
Meu sangue: – noventa e um
Por cento de hemoglobina.
Creio que fiz muito mal
Em desprezar o cigarro:
Pois não há material
Pro meu exame de escarro!
Até agora, só isto.
Para o bem dos meus pulmões,
Eu nem brincando desisto
De seguir as instruções.
Que o meu amigo Edgar
Arranque deste papel
O abraço que vai mandar
O seu amigo Noel.
João Máximo e Carlos Didier. Noel Rosa: uma biografia. Brasília: Editora Universidade de Brasília: Linha Gráfica Editora, 1990, pp. 352-353.