Um cheirinho no cangote
Dois mitos da música popular brasileira, Rita Lee e Elis Regina, que aqui se assina Elizabeth Maria, foram vizinhas no bairro paulistano Serra da Cantareira, onde desenvolveram fortes laços de afeto. “Ah se eu tivesse um nono daquela voz”, exclamava a roqueira paulista a respeito do vozeirão da gaúcha – conta Lee na autobiografia.
[1978]
Rita querida,
Foi bom ter te conhecido mais um pouco. Obrigada por tudo.
Conversei um tanto com Henfil a teu respeito. E a respeito da música que você fez pra Ubaldo.[1] Ele ficou surpreso, primeiro. Feliz, depois. E puto pela impossibilidade de ela estar sendo cantada.
Pede que você tente mais uma vez. E que, se der, ele gostaria de incluir a música na peça.[2]
Dados os recados, dois pra lá, dois pra cá.
Manda (o Henfil, claro) esse “desenho” “ como prova de afeto”: uma mão estendida em sinal e à espera de nova conciliação.
Enviado o presente.
No mais: um beijo no nenê;[3]
Um abraço no companheiro de fé e responsa;
Um cheirinho no cangote.
Gosto muito de você.
Elizabeth Maria
Rita Lee. Rita Lee: uma autobiografia. São Paulo: Globo, 2016.
[1] N.S.:Ubaldo, o Paranoico, foi um dos inúmeros personagens criados pelo cartunista brasileiro Henfil. Admirador de Rita Lee, não se furtava a nomeá-la “ritalee, ritaqui” e “representante do imperialismo musical americano”. A compositora retribuiu a brincadeira com uma canção
[2] N.S.: Revista do Henfil, peça de 1978 em parceria com Oswaldo Mendes, dirigida por Ademar Guerra e produzida por Ruth Escobar, com músicas de Cláudio Petraglia. Estreou no dia 1º de setembro de 1978 em São Paulo, inaugurando o novo Teatro Galpão/Ruth Escobar.
[3] N.S.: Beto Lee, o primeiro filho de Rita Lee, que nasceu em 21 de março de 1977. O segundo, João Lee, nasceria em meados em 1979.