“Ana Cristina começou a fazer poemas antes de saber ler e escrever”, afirmou a escritora Lúcia Benedetti sobre o talento precoce da mais destacada poeta da chamada “poesia marginal”, e homenageada da Flip 2016. Em 1962, Ana Cristina Cesar já sabia e gostava de escrever. É o que comprova esta carta, inédita até hoje, escrita à sua tia Nídia, apelido de Tirza, irmã de seu pai, que morou em Chicago durante muitos anos e com quem a poeta se correspondia.
[Mauá, Rio de Janeiro], 7 de julho de 1962
Querida tia Nídia:
Hoje estou realmente com vontade de escrever. Parece que não recebeu a minha carta e a do Flavio.
Estou em Mauá. A solidão, e o repouso, o silêncio daqui, é tudo uma beleza. Meus pais fazem hoje 12-1 anos de casados.[1] Coitados, é com pena que eu digo que eles já estão na adolescência matrimonial.
Mamãe diz que eu sou pré-adolescente, não matrimonial. Mas eu teimo que ainda estou na infancicidade máxima.
O meu jornal parece que empacou, porque os mimeógrafos sumiram.
Eu fiz uma poesia meio tantã. Quer ouvi-la?
Que fazer?
Nas férias terei muito tempo!
Preciso pensar no programa.
Que farei nesta segunda?
Ficarei sempre na cama?
E na terça, quarta, quinta,
Que será que eu vou fazer?
Será muito boa ideia,
Pelos campos ir correr.
Arquivo Ana Cristina Cesar/ Acervo IMS.
[1] N.S.: Os pais de Ana Cristina Cesar se casaram em 7 de julho de 1951.